15 de fevereiro de 2011

Estudo diz que desmatamento aumenta pegadas de carbono da carne brasileira

A produção de carne bovina do Brasil produz mais emissões de carbono do que se pensava, de acordo com um estudo recentemente publicado no Environmental Science & Technology (o artigo pode ser acessado no link: http://pubs.acs.org/doi/full/10.1021/es103240z). De acordo com o estudo, como os produtores brasileiros são bastante responsáveis pelo desmatamento, a carne bovina da Amazônia brasileira produz, talvez, a maior pegada de carbono dentre todas as carnes bovinas do mundo.

Os produtores de carne bovina são responsáveis por cerca de 70% da floresta desmatada na Amazônia brasileira, disse a pesquisadora do Swedish Institute of Food and Biotechnology, em Gothenburg, Suécia, Christel Cederberg. Ela e seus colegas calcularam as pegadas de carbono da carne bovina que vieram dessas pastagens.

A equipe de pesquisadores começou com resultados do censo agrícola de 2006: durante os 20 anos anteriores, os produtores de gado causaram a destruição de mais de 20 milhões de hectares da floresta amazônica. Os pesquisadores, então, desenvolveram uma forma de calcular a participação da carne bovina nas emissões de gases de efeito estufa devido à remoção de árvores, reportando as partes relacionadas a colheitas e madeira e calculando a média das emissões durante o período de 20 anos.

O resultado do estudo foi que o desmatamento devido à produção de gado produz mais de 700 quilos de CO2 por quilo de carcaça. Considerando que somente 72% da carcaça é comestível, isso representa quase uma tonelada de carbono por quilo de carne, calcularam os pesquisadores.

Porém, somente 6% da carne bovina brasileira vêm de fazendas criadas pelo desmatamento, o que significa que as pegadas de carbono da carne bovina brasileira variam muito baseado em onde o animal é criado, disse Cederberg. Como resultado, somente 6% da carne bovina do país é responsável por 60% das pegadas de carbono da indústria.

Cederberg argumenta que as pegadas de carbono do Brasil para carne bovina deveriam levar em consideração o desmatamento. Para a maioria das estimativas, a carne bovina exportada pelo Brasil tem uma pegada de 28 quilos de CO2 por quilo de carne bovina, que considera as emissões de gases de efeito estufa da digestão dos animais e do esterco, além do combustível usado para criar os animais. Cederberg classificou essas estimativas como "equivocadas" porque, adicionando os efeitos do desmatamento, as pegadas de carbono da produção de carne bovina do país sobem para 72 quilos, mais que o dobro da média mundial para carne bovina.

"Eu esperaria que uma boa parte das companhias que compram carne bovina brasileira na União Europeia (UE) compraria menos depois de ver essas pegadas maiores", disse o co-autor da pesquisa, professor emérito de tecnologia ambiental da Universidade de Surrey, no Reino Unido, Roland Clift.

Esse estudo é o primeiro a quantificar o quanto o desmatamento acrescenta às pegadas de carbono da carne bovina brasileira, disse a pesquisadora do Food Climate Research Network da Universidade de Surrey, Tara Garnett, que não esteve envolvida no estudo. "Uma vez que a demanda global por carnes está aumentando rapidamente, essa é uma grande preocupação".

Conversamos com Rodrigo Paniago, engenheiro agrônomo e presidente a Associação dos Profissionais da Pecuária Sustentável (APPS) sobre o assunto e ele avalia que "afirmar que a pecuária é a grande responsável pelo desmatamento é olhar de forma simplista para o problema. Muitas vezes a pecuária é a pioneira, porém a atividade que assume área é a agricultura, portanto, fazer uma leitura pontual da questão é um equívoco grosseiro. Como apenas 6% da carne bovina brasileira vêm de desmatamento? Não há área de terra produtora de alimentos em todo o mundo onde não ocorreu a conversão por desmatamento. Portanto, ao incluir o desmatamento na comparação da pegada de carbono de nossa carne, também é preciso verificar se eles incluíram na pegada dos demais países o próprio desmatamento. Imaginem os ingleses, autores do artigo, terem que incluir na pegada de carbono da carne deles a emissão de praticamente 100% de desmatamento da área de produção. Os pesquisadores europeus que desenvolvem estudos sobre a nossa pecuária estão mais para sofistas do que cientistas, pois em sua esmagadora maioria se utilizam de dados de emissão total para seus cálculos e não a emissão líquida, ou seja, não incluem na conta o total de sequestro de carbono pelas plantas envolvidas na alimentação dos bovinos".

Para Marcelo Pimenta, diretor geral e sócio da Exagro, "é muito fácil analisar e publicar dados de pesquisa quando já se sabe de antemão o que se quer dizer. É revoltante a quantidade de informações tendenciosas e pelas metades que chegam até o consumidor dos nossos produtos, que não tem conhecimento para contestá-las e nem sequer questioná-las. Dados como esses da pegada de carbono são tão absurdos como aqueles que tratam do gasto de água por quilo de carne produzida. É urgente que a Embrapa e outras entidades de pesquisa brasileiras se mobilizem para pesquisar e publicar dados científicos definitivos, que tratem ponto a ponto a realidade do assunto, não para simplesmente contestar as publicações absurdas de quem quer denegrir o nosso produto, mas para dar um diagnóstico completo da pecuária brasileira do ponto de vista ambiental".

Leia as opiniões de alguns especialistas sobre este tema:

Rodrigo Paniago: afirmar que a pecuária é a grande responsável pelo desmatamento é olhar de forma simplista para o problema

Marcelo Pimenta: precisamos de estudos claros sobre os impactos da pecuária brasileira para combater informações tendenciosas

A reportagem é do http://pubs.acs.org, traduzida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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