Líderes comunitários encarregados da gestão de parte de uma floresta  mexicana dizem que seu trabalho na extração de madeiras raras está  protegendo a população local de jaguares e pode servir de exemplo para a  conferência climática da ONU que, não muito longe dali, em Cancún,  discute formas de preservar as florestas do mundo.                                 
Nesse modelo de gestão florestal comunitária, as terras pertencem às  populações nativas, que exploram a madeira de olho no futuro, causando  menos danos que as madeireiras tradicionais, que em geral possuem  concessões por prazos de 20 a 30 anos.                                 
Representantes de quase 200 países estão reunidos de 29 de novembro a  10 de dezembro em Cancún, 250 quilômetros ao norte da localidade de  Noh-bec, para discutir medidas destinadas a reduzir o ritmo da mudança  climática global - o que inclui incentivos à preservação florestal nos  países em desenvolvimento.                                 
A comunidade ("ejido", como se diz no México) de Noh-bec foi fundada  em 1936 e é considerada um dos melhores exemplos de exploração florestal  sustentável no país. Seus moradores retiram três árvores de mogno por  hectare por ano, deixando intocados outros 24 mil hectares.                                 
No futuro, essa prática pode ser beneficiada por um mecanismo que  confere créditos negociáveis para atividades, como a preservação  florestal, que contrabalancem emissões de gases do efeito estufa - o  chamado REDD (redução de emissões pelo desmatamento e degradação), que  está sendo discutido em Cancún.                                 
"Temos 50 milhões de hectares de florestas comunitárias no México e  na América Central que potencialmente poderiam se qualificar para o  REDD", disse Salvador Anta, gerente de florestas comunitárias da  Comissão Nacional Florestal mexicana.                                 
Segundo Bernabé del Angel, engenheiro florestal e membro do ejido de  Noh-bec, a região abriga espécies raras de felinos, como jaguares e  jaguatiricas. Outro membro da comunidade, Luis Alfonso Arguelles, disse  haver na região um grupo de cem árvores que não existem em nenhum outro  lugar - e aponta como exemplo um cedro vermelho de 400 anos, na parte  protegida da floresta.                                 
A comunidade tem se beneficiado da certificação ambiental da madeira,  que permite ao seu mogno ser exportado a preços melhores para os  mercados dos Estados Unidos e Europa.                                 
Mas as margens de lucro, segundo Del Angel, ainda são pequenas. Após  um investimento de 1 milhão de dólares na operação, cada morador do  ejido recebeu até agora dividendos em torno de 2.400 dólares, mais os  salários. Cada árvore de mogno custa em média 1.600 dólares, o que  explica porque a exploração é tão atraente.                                 
Especialistas dizem que a gestão florestal comunitária não é uma  panaceia, já que também pode levar à exploração excessiva. Segundo Simon  Counselll, da entidade britânica Rainforest Foundation UK, há dúvidas  sobre se o ritmo de exploração em Noh-bec será suficiente para permitir a  recomposição do mogno em longo prazo.                                 
Mesmo assim, ele vê a experiência com bons olhos. "O importante é que  isso dá às comunidades locais uma razão para cuidar das florestas, isso  é bom. Teoricamente, seria bom se fosse replicado."
Fonte: Estadão
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