29 de outubro de 2010

Maior seca dos últimos 110 anos na Amazónia

A Amazónia está a viver a pior seca dos últimos 110 anos. Os caudais dos rios estão a diminuir para valores recorde e a impedir a navegação fluvial, isolando dezenas de comunidades e pondo em risco milhares de pessoas. Mais de 60 municípios da região já declararam o estado de emergência.
"Estamos a passar a pior seca de que há memória na Amazónia", afirmou Marcos Savini, representante do Governo brasileiro na Comissão Europeia, num encontro com jornalistas em Bruxelas. Em 2005, a região já atravessou uma seca muito grave, mas a deste ano "é a pior dos últimos 110 anos".
Savini atribui este cenário ao agravamento do aquecimento global, enquanto outros peritos se inclinam para explicações relacionadas com o aumento dos furacões no Atlântico e o fenómeno meteorológico do El Niño.
Numa altura em que o mundo prepara a próxima cimeira do clima - em Dezembro, em Cancún -, o brasileiro aproveita para sublinhar que, "se as emissões de gases com efeito de estufa não pararem, a floresta vai arder por si própria". O cenário de destruição da floresta tropical e da sua transformação em savana, associado à escassez de água, já tinha sido apontado pelos cientistas do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.
Investigadores citados pelo jornal brasileiro Folha de São Paulo dizem agora que o caudal dos rios da Amazónia caiu cerca de 50%. O nível do rio Negro, um dos afluentes do Amazonas e dos principais da região, decresceu drasticamente nas últimas semanas, passando de uma profundidade de 29,77 metros para 13,63.
Os barcos estão atolados no lodo, e a água deu lugar a rochas e areia, provocando a morte de milhares de peixes e pondo em risco a sobrevivência das populações.
As comunidades ribeirinhas são as mais vulneráveis, pois, tendo em conta que a circulação se faz pelos rios, ficam rapidamente isoladas. Segundo o Governo brasileiro, nos últimos dias foram distribuídos cabazes com produtos essenciais - medicamentos e produtos de higiene -, para assegurar o bem-estar da população.
No estado do Amazonas, foram também distribuídas várias toneladas de alimentos, e estimam-se em mais de 60 mil as pessoas afectadas. Para atacar o problema, as autoridades já anunciaram uma verba de dez milhões de euros.
Mas nem tudo são más notícias. Marcos Savini garante também que a destruição da floresta tropical está a desacelerar. Ocupando quase metade do território brasileiro, a Amazónia tem sido alvo de um programa de contenção, cujo objectivo é reduzir a desflorestação em 80% em dez anos.
"Em 2009, o desmatamento teve uma redução de 43% em relação ao ano anterior. Foi o melhor ano desde que começámos a adoptar estas políticas. Este ano vamos bater um novo recorde, com 4000 quilómetros quadrados de desmatamento", afirmou.
Savini sublinhou ainda a importância das florestas como sumidores de carbono e lembrou que a sua destruição agrava as alterações climáticas. Que, por sua vez, também causam mais secas, incêndios, e põem em risco a manutenção das zonas tropicais. Por isso, da cimeira do clima, o representante brasileiro espera que saia um acordo mundial para travar a desflorestação.

Fonte: http://dn.sapo.pt

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