27 de junho de 2011

Especialista em serviços ambientais faz palestra na Sema

“O Caboclo não é leso, é inteligente”. A declaração é de Virgílio Viana, PhD em Biologia da Evolução pela Universidade de Harvard e superintentende geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), ao explicar o desmatamento em curso na Amazônia, feito, segundo ele, por pessoas da própria região. “O desmatamento não é fruto de burrice; segue uma lógica econômica”, frisou o especialista, nesta segunda-feira (27), na Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema), durante a palestra “Serviços ambientais na Amazônia e a experiência do Estado do Amazonas”.
No Amazonas, onde atuou também como secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de 2003 a 2008, Virgílio Viana coordenou o processo de concepção e implementação do Programa de Desenvolvimento Sustentável (PDS) “Zona Franca Verde”, do Programa Bolsa Floresta (PBF) e da primeira Lei de Mudanças Climáticas do Brasil. Sobre essas experiências, o especialista destacou o Bolsa Floresta, que compensa economicamente os esforços de conservação ambiental das famílias que moram nas Unidades de Conservação do Estado. Os beneficiados do programa participam de uma oficina de formação sobre mudanças climáticas e sustentabilidade, e no final, assinam, voluntariamente, um termo de compromisso de desmatamento zero.
Virgílio Viana falou sobre ações ambientais que resultaram na queda do desmatamento no Amazonas e o crescimento da economia. “É lógico, porém, que o Amazonas tem suas particularidades: economia do petróleo, Zona Franca, aumento das unidades de conservação”, considerou. “As florestas da Amazônia têm papel de importância mundial. É necessário ver essas áreas como serviços ambientais, pois sua conservação garante a manutenção dos rios e influencia na pesca, na agricultura, pecuária (o boi bebe água) e na geração de energia hidrelétrica”, explicou. “Por isso, a floresta vale mais em pé do que derrubada”, defendeu.
O especialista citou ainda como exemplos a Nova Zelândia e a Costa Rica, o primeiro por ter um dos melhores Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) e florestas preservadas; o segundo, apesar de ser um país pequeno, tem serviços ambientais que funcionam: cobra-se pela água e pela floresta em pé, por exemplo. “Não existe antagonismo entre desenvolvimento e preservar a floresta”, reforçou.
Custo - Segundo Virgílio Viana, o desafio estratégico é começar a cobrar pelos produtos e serviços da floresta: madeira, produtos não madeireiros, peixes de igapó, biodiversidade, beleza cênica, turismo, recreação. “Sempre fomos provedores dos serviços ambientais, mas nunca ninguém pagou por isso. Está na hora de cobrar”, salientou. Ele aproveitou para citar uma frase do pesquisador Samuel Benchimol (1923-2002), também especialista na região amazônica, que décadas atrás já falava do assunto, que apenas agora está sendo implementado no Brasil: “A Amazônia precisa ser recompensada pelos serviços que presta ao planeta”.
Para que o planeta não sofra piores consequências da falta de preservação, o caminho, segundo Virgílio Viana, é investir em ações eficazes e eficientes, fazer uma verdadeira metamorfose. “Investir e prevenir o aquecimento é muito melhor do que promover a adaptação e sofrimento dos impactos”, disse. “Há urgência em mudar o curso do planeta”, sentenciou. Ele finalizou o discurso sinalizando o maior desafio do Brasil na área ambiental: pessoas. “É possível que as pessoas sejam partícipes desse processo, desde que o governo mostre o modelo apropriado”, avaliou.
A titular da Sema, Teresa Cativo, fez o encerramento da reunião falando do desafio proposto para a secretaria desde o começo do ano, que é trazer todo mês debates como este para todos que já lidam diariamente com o tema. “O Pará tem um grande desafio, que é apresentar uma proposta consistente, porque o Amazonas está um pouco mais a frente. Portanto, é importante ouvirmos pessoas com experiências exitosas, que mostram alternativas para propostas que já temos internamente. Quando falamos de preservação, temos que ser rigorosos”, declarou.



Fonte: http://www.agenciapara.com.br

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