17 de dezembro de 2010

Ursos polares podem sair da lista dos animais ameaçados de extinção

À medida que seu hábitat começou a derreter devido ao aquecimento global, o urso-polar entrou para a lista dos animais ameaçados de extinção. Há cerca de três anos, cientistas passaram a considerar o risco de o grande mamífero do Ártico desaparecer. Porém, um novo estudo sugere que ainda há chances de salvá-lo. Para isso, nas duas próximas décadas a redução nas emissões de gases com efeito estufa terá de ser significativa, de acordo com um grupo de pesquisadores internacionais, que foram destaque na capa da edição de ontem da revista especializada Nature.
De acordo com um dos autores, Steven Amstrup, da organização Polar Bears International, quando as projeções foram feitas, em 2007, os cientistas levaram em conta apenas o cenário das emissões, sem considerar os esforços de mitigação. Ele explica que, no estudo de três anos atrás, foi projetado que apenas um terço da atual população de 22 mil ursos-polares iria sobreviver até meados do século, caso o degelo do Ártico continuasse. Também foi estimado que eles poderiam até mesmo desaparecer por completo. Com isso, foram incluídos na lista de animais ameaçados.
Mas a nova pesquisa, baseada em parte em um modelo proposto pela professora de Ciências Atmosféricas da Universidade de Washington Cecilia Bitz, sugere que não há um ponto crítico irreversível. Segundo Bitz, não é possível determinar que, a partir de um aumento de temperatura provocado pelo aquecimento global, as calotas polares vão derreter tanto no verão que a situação ficará sem volta. “A nossa pesquisa oferece uma mensagem muito promissora e esperançosa, mas também é um incentivo às medidas de mitigação”, lembrou a cientista, em uma teleconferência de imprensa.
Os ursos-polares dependem da camada de gelo que cobre o mar para caçar suas presas primárias, as focas. “No verão, um declínio nas camadas tem sido associado à queda da estatura e da condição física dos ursos, sua menor taxa de sobrevivência e a diminuição do tamanho das populações”, conta Bitz. Nas estações do ano em que os ursos não conseguem alcançar as camadas geladas, eles chegam a perder 1kg por dia. Esses períodos têm aumentado e, com o nível atual das emissões de gases de efeito estufa, a expectativa é que durem ainda mais. “A perda do hábitat devido ao aquecimento global é a principal causa da queda da população dos ursos, de acordo com projeções do Instituto de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos. O aumento da caça e o de outras atividades humanas não são suficientes para isso”, diz a pesquisadora.
Já que a camada de gelo é um fator determinante para a manutenção das populações de ursos-polares, foi sobre os prognósticos dessa variável que os cientistas se debruçaram. Estudos anteriores conduzidos por Cecilia Bitz e outros autores mostraram que o aumento da temperatura poderia resultar na perda de muitas áreas geladas do Ártico em menos de uma década. Eles também indicaram que, com as emissões no nível que estão agora, a camada não se recomporia rapidamente, desaparecendo nas próximas décadas. Mas, na nova pesquisa, baseada em modelos estatísticos, os cientistas descobriram que, com ações de mitigação urgentes, será possível reter parte do gelo ainda existente na região ao longo de todo o século, assim como conseguir recuperar o que se já perdeu.
Steven Amstrup dividiu o Ártico em quatro regiões ecológicas de acordo com a natureza do gelo encontrado no local. Em duas dessas regiões, as pesquisas de 2007 mostravam que os urso-polares poderiam ser extintos devido às emissões de dióxido de carbono. “Ainda há um forte risco de que em ambos locais os ursos desapareçam, mas com mitigação e um gerenciamento agressivo da caça e de outras interações entre homens e ursos, a probabilidade de extinção seria menor do que a probabilidade de o número de ursos simplesmente diminuir. Com a mitigação, as duas outras regiões ficariam ainda melhores para os ursos-polares. Conseguimos mostrar que os benefícios seriam substanciais”, diz.

AÇÕES POSITIVAS
Mitigar significa reduzir danos. Na seara das mudanças climáticas, as ações vão desde o estabelecimento de metas de cortes das emissões à manutenção das florestas. O Brasil, por exemplo, deixou de emitir 2,9 bilhões de toneladas de carbono equivalente nos últimos nove anos, ao reduzir em 70% o desmatamento da Amazônia.
Os riscos da migração
Apesar do prognóstico otimista da pesquisa publicada na revista Nature, sem ações de prevenção e mitigação, um futuro nada promissor aguarda os ursos-polares. Segundo pesquisadores da Universidade da Califórnia, há fortes evidências de que, com a perda do hábitat, esses animais serão forçados a migrar para o sul, em busca de novas alternativas de alimentos, e entrarão em confronto direto com ursos-cinzentos — uma subespécie do urso-marrom —, que vivem nesses locais.
Para testar os desdobramentos da competição, os biólogos da universidade construíram um modelo de computador em 3D dos crânios dos ursos polares e cinzentos e simularam um processo em que um mordia o outro. O modelo permitiu comparar as duas espécies no sentido de qual consegue morder mais forte e qual dos dois crânios é mais resistente às agressões. “O que descobrimos foi surpreendente”, contou ao Correio Graham Slater, aluno de pós-doutorado em ecologia e principal autor do estudo. “Ambos os ursos conseguem morder com a mesma força, mas o crânio do polar tem uma estrutura muito mais fraca”, diz.
Alimentação
Segundo Slater, isso significa que os ursos-polares provavelmente vão perder se tiverem de competir por comida, à medida que as temperaturas cada vez mais altas os expulsarem rumo a outros ecossistemas. Além disso, a dieta do sul é inadequada para esse tipo de animal, acostumado a consumir focas e peixes. Exímio caçador no gelo, ele não tem o mesmo desempenho em terra firme. “O resultado é que o urso-polar pode perder peso, ficar menor e com um sucesso reprodutivo muito pequeno, além da dificuldade de conseguir chegar até a idade adulta”, afirma o biólogo. “Às pessoas que afirmam que os ursos-polares podem simplesmente mudar sua dieta, estamos dizendo que terão de mudá-la, mas isso não será suficiente para eles, principalmente se precisarem conviver com os ursos-cinzentos.”
Slater afirma que poderá levar tempo até que os ursos- polares entrem em extinção, mas que, no futuro, serão bem mais raros do que hoje. “O resultado de nossa pesquisa é que eles não conseguirão se adaptar bem à nova dieta. Esperamos que essa descoberta sirva como um aviso de que, se os padrões atuais de aquecimento global continuarem, eles podem não ser flexíveis o bastante para sobreviver.”
Um outro estudo publicado ontem na revista Nature mostrou que as mudanças climáticas também poderão interferir na população de ursos-polares porque vão forçar os mamíferos do Ártico a acasalar com outras espécies. “À medida que mais populações e espécies isoladas entram em contato, elas acasalam entre si, e espécies raras podem ser extintas”, diz o artigo. Em 2006, afirmam, cientistas ficaram surpresos ao descobrir um “Pizzly”, ou um híbrido de urso-pardo e urso-polar, e em 2010 outro urso, morto a tiros por um caçador, também com seu DNA misturado. O artigo destacou que isso pode ocorrer ainda com outras espécies, como baleias.

Fonte: http://www.pernambuco.com

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