Em 2020, a Amazônia poderá continuar abrigando a mais extensa e  conservada floresta tropical do mundo e manter o maior e mais diverso  estuário do mundo. A biodiversidade poderá deixar de ser assunto apenas  acadêmico e se tornará oportunidade de renda e emprego. A grande  diversidade de espécies de árvores de valor madeireiro e não madeireiro  poderá ser manejada com rigor ambiental e controle social. A rede  hidrográfica de vasto potencial hidrelétrico (cerca de 60% do potencial  nacional) e de transporte alavancará o desenvolvimento regional. E a  região poderá começar ser recompensada pelos serviços ambientais  prestados na regulação do clima. 
Embora esse cenário  pareça otimista, há chances de que possa ocorrer. Motivo: nunca a  Amazônia foi tão estratégica como agora. De região problema nas três  últimas décadas, a Amazônia poderá emergir até 2020 como uma região  próspera, capaz de conciliar desenvolvimento, conservação e diversidade  sociocultural. Isso decorre do papel central que a Floresta Amazônica  terá para o Brasil em duas áreas essenciais para o país na próxima  década: clima e energia. 
É largamente reconhecido o papel  da Floresta Amazônica na regulação regional e global do clima. Ela é,  por exemplo, “provedora” de chuvas para amplas áreas do Sul e do  Sudeste. Mas é na contribuição do Brasil para a redução das emissões de  gases de efeito estufa (GEE) que ela será estratégica. Da meta de  redução de pelo menos 36% em relação à tendência esperada (inercial) até  2020, pelo menos três quartos serão cumpridos pela Amazônia, tanto pela  redução do desmatamento como pela geração de energia por hidrelétricas e  pela reforma da produção agropecuária. Enfrentar o desmatamento da  Amazônia é crucial para o Brasil reduzir seu passivo de emissões. 
Na  área de energia, o Brasil dependerá fortemente da floresta para gerar a  energia hidrelétrica necessária ao desenvolvimento da próxima década.  São as florestas, com suas chuvas e rios caudalosos associados, que  possibilitam a produção hidrelétrica. Assistiremos a planos de forte  expansão da rede de usinas na Amazônia. Essa expansão gerará riscos  graves se forem repetidos os erros do passado, quando as hidrelétricas  catalisaram ocupação desordenada, conflitos sociais e desmatamento. Mas é  possível que essas iniciativas representem também oportunidade, se  pactuadas com os setores socioambientais e se a energia dinamizar a  economia regional. 
Até meados desta década, quando o PIB  crescia, o desmatamento disparava. Foi preciso um plano vigoroso de  combate ao desmatamento (lançado em 2004) para mudar essa correlação. Em  2010, a economia da Amazônia cresceu à taxa quase chinesa, enquanto o  desmatamento despencou para a menor taxa da história, atingindo 6.400  quilômetros quadrados. 
Em 2020, as perspectivas podem ser  ainda mais promissoras. As apostas mais prováveis incluem o  desmatamento próximo de zero (cenário otimista), passando por um cenário  de desmatamento baixo (inferior a 1.000 quilômetros quadrados), até um  desmatamento de cerca de 3.900 quilômetros quadrados, o que corresponde à  meta de redução de desmatamento assumida pelo Brasil em 2009. 
A  economia da Amazônia tende a ser mais vigorosa e competitiva. A começar  pela mineração, que deve manter a fase de boom atual, impulsionada pela  forte demanda chinesa. Haverá forte pressão para a industrialização  mineral na região, mas isso dependerá da oferta de energia e da melhoria  da logística. 
A imperiosidade de produzir sem desmatar  provocará mudanças profundas na pecuária e no cultivo de grãos, levando à  intensificação e ao consequente aumento de produtividade. Só os  produtores com selo de qualidade e rastreabilidade se manterão no  mercado extremamente exigente de 2020.
No caso das áreas desmatadas e abandonadas, haverá duas  macrotendências. Primeiro, a maior parte dessas áreas será substituída  por extensas áreas de reflorestamento, tanto para fins de restauração  ambiental como de produção. Surgirão novas fábricas de MDF e plantas de  papel e celulose. Segundo, parte dessas áreas se transformará em  cultivos com o dendê, que poderá alcançar 1 milhão de hectares em 2020  (atualmente são pouco mais de 50.000 hectares). 
Em torno  da floresta nativa devem prosperar muitas das novidades da economia da  Amazônia. Será possível gerar renda, emprego e tributos não apenas de  madeira e produtos não madeireiros, mas também da biodiversidade.  Mecanismos de pagamento de serviços ambientais deixarão de ser uma  miragem para se tornar realidade. A combinação de oportunidades nas  florestas nativas e plantadas tornará a Amazônia o principal polo de  produção florestal do Brasil. 
Apesar dos avanços, a  Amazônia enfrentará ameaças e reveses. Iniciativas legislativas para  flexibilizar a lei ambiental (incluindo anistias a crimes ambientais),  bem como a redução das áreas protegidas, podem catalisar a volta do  desmatamento. A demora em implementar uma estratégia para pequenos  produtores pode ter o mesmo efeito. A lentidão na regularização  fundiária pode comprometer a intensificação do uso da terra. Como  contraponto, ONGs e movimentos sociais serão mais pragmáticos,  propositivos e com capacidade de buscar soluções integradas, combinando  mercado e políticas públicas. 
A Amazônia precisa de  investimento de grande porte para se tornar parte da solução e não mais  problema nacional. Estima-se um total de R$ 200 bilhões de 2010 até  2020. Seriam R$ 20 bilhões anuais em áreas estratégicas, como  ordenamento fundiário, ciência e tecnologia, assistência técnica,  desenvolvimento de novas cadeias produtivas e melhoria substancial dos  serviços públicos. Ao final desse período a economia da Amazônia estaria  posicionada com base no conceito de “baixo carbono”. Em 2020, a  Amazônia seria um exemplo de como conciliar natureza, economia e  diversidade sociocultural.
Fonte: http://revistaepoca.globo.com
 
 
 

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