25 de outubro de 2010

Quatro plantas ameaçadas do cerrado tem chances de preservação avaliadas

Belo Horizonte — Diante do risco e da ameaça de desaparecimento de diversas espécies da flora que ocorrem no cerrado, bioma que ocupa cerca de 22% do território brasileiro, um grupo de pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB/UFMG) decidiu investigar o DNA de alguns exemplares nativos desse grupo da biodiversidade nacional. O objetivo era conhecer sua evolução e determinar quais as chances de adaptação e sobrevivência das plantas. Foram quatro espécies estudadas: jacarandá-da-bahia, vinhático, jatobá-do-cerrado e jatobá-da-mata. Segundo maior bioma da América do Sul — e o mais devastado —, o cerrado engloba, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 1.387 municípios distribuídos pelos estados de Minas Gerais, Bahia, Distrito Federal, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Piauí e São Paulo, com uma população estimada em 25 milhões de pessoas, segundo o Censo 2000.

“Hoje, não é importante apenas conservar o número de espécies desse bioma, mas também ficar atento ao tamanho da população de cada espécie e se há diversidade genética para elas se manterem”, alerta Maria Bernadete Lobato, professora especializada na área genética, que coordenou o estudo com o pesquisador José Pires de Lemos Filho.

O estudo não poderia ser divulgado em melhor hora: até o dia 29, ocorre em Nagoia, no Japão, a 10ª Conferência das Partes sobre Diversidade Biológica (COP-10). A própria Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade. Instituída em 1992, a conferência tem como meta a redução da perda da riqueza da fauna e da flora do planeta. No evento, o Brasil lidera o grupo de 17 países com maior riqueza de espécies. E na pauta da COP-10 estão as regras de repartição dos benefícios do uso de material genético, incentivadas pelo risco de patentes sobre espécies nativas do país.

“No caso do Brasil, que detém a maior biodiversidade do planeta, nosso governo pretende definir, com clareza, os mecanismos de repartição dos benefícios advindos da conservação do seu patrimônio biológico”, esclarece Gláucia Drummond, superintendente-geral da Fundação Biodiversitas, organização não governamental com sede em Belo Horizonte. “A conservação da biodiversidade tem que passar a ser tratada como um ativo na esfera econômica e não como um entrave ao desenvolvimento econômico”, diz.

Boa notícia
Pouco estudada, a questão da diversidade genética alerta para um problema: se a população das espécies for muito pequena, há um risco maior de endogamia, cruzamento de plantas aparentadas. A endogamia é prejudicial para seres vivos, pois causa uma maior suscetibilidade a doenças, além da diminuição da capacidade de adaptação ao clima. Para realizar o estudo, foram coletadas amostras de folhas de várias plantas de cada local de ocorrência das espécies. Das folhas, foi extraído o DNA, do qual foi isolada uma determinada sequência para comparação.

“Chegamos à conclusão de que há uma grande diversidade de material genético, um fator que colabora para a manutenção dessas plantas, cuja preservação poderá ser orientada. Além disso, também foi possível saber mais sobre a história de cada uma das espécies avaliadas, como sua distribuição geográfica e evolução”, afirma Maria Bernadete, do ICB/UFMG. A professora salienta que os resultados são singulares e não valem de pronto para outras espécies. Além dos coordenadores, o estudo envolveu 10 pesquisadores, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).

A preocupação ecológica ganhou corpo no Brasil na década de 1980, principalmente em função da pressão internacional em relação à preservação da Floresta Amazônica. Mas o foco na Amazônia acabou desviando a atenção de outros biomas igualmente ameaçados no país. Atualmente, o mais devastado deles é o cerrado, segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Não menos rica é a quantidade de espécies de plantas nativas do bioma: 11.267. “Na medida em que o conhecimento sobre o cerrado foi ampliado, uma extraordinária riqueza de espécies da fauna e da flora foi revelada. De outro lado, a qualidade dos serviços ambientais — temperaturas amenas, insolação, pluviosidade, topografia, solos — já era conhecida, o que favorecia sua exploração para cultivos intensivos. Nesse descompasso de informações, 50% do cerrado foi desmatado nas últimas três décadas”, alerta Gláucia Drummond, da Biodiversitas.

Preservação
A diversidade natural da área de cerrado responde por cerca de 5% da biodiversidade do planeta. Ainda que seja considerado um dos 34 hotspots mundiais, territórios cuja preservação é prioritária, o cerrado é o bioma com a menor porcentagem de áreas sob proteção integral (contra quase 50% da Amazônia) e sofre com um ritmo de devastação de 14 mil quilômetros quadrados por ano, o que já destruiu cerca de metade da vegetação original. Para tentar atenuar esse cenário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, em 15 de setembro, decreto que cria o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado (PPCerrado).

Segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o plano vai ajudar na obtenção da meta de redução de 40% do desmatamento até 2020, apresentada em dezembro na Convenção das Partes da ONU para Mudanças Climáticas (COP-15), na Dinamarca. Para atingi-la, haverá monitoramento em tempo real por satélite, feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nos moldes do que é adotado pelo programa Amazônia Legal.

Com o investimento de R$ 339 milhões até 2011, o plano prevê a criação de 2,5 milhões de hectares em áreas protegidas. O investimento será aplicado também em ações de fomento à produção sustentável e à educação ambiental voltados a agricultores familiares e assentados, que receberão assistência técnica e orientação para evitar o uso de queimadas no seu cultivo. A intenção do MMA é contratar 4,5 mil brigadistas de incêndio para atuar no projeto.

Fonte: Correio Braziliense

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