25 de outubro de 2010

De olho nos eleitores de Marina, Serra e Dilma adotaram postura ambiental inédita

O verniz verde assumido por Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), depois da expressiva votação obtida por Marina Silva (PV) no primeiro turno, destoa por completo do modo de administrar da petista e do tucano. Quando foi ministra de Minas e Energia, entre 2003 e 2005, Dilma incrementou a matriz energética brasileira com poluentes fontes de energia. Na chefia da Casa Civil, entre 2005 e 2010, fez pressão e comprou briga para obter num prazo mínimo as licenças ambientais necessárias para as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Serra, na prefeitura (2005-2006) e no governo de São Paulo (2007-2010), deixou o transporte de fora do cálculo da emissão de gases do efeito estufa, elaborou projetos ambientais pela metade, estreitou as relações com os ruralistas e com o agronegócio, em oposição às ideias de conservação e sustentabilidade. O Correio fez um levantamento de atos administrativos de Dilma e Serra que contradizem o mais recente discurso ambiental assumido pelos dois. À frente de cargos importantes no Executivo, os dois presidenciáveis nunca trataram o meio ambiente como prioridade e, mais do que isso, foram questionados por práticas negativas e consideradas arcaicas. Agora, para atrairem os 19,6 milhões de votos depositados na candidata do Partido Verde, tanto a petista quanto o tucano assumem compromissos que nunca executaram quando estiveram à frente de ministérios, no caso de Dilma, ou da prefeitura e do governo de São Paulo, no caso de Serra. “Quando um governo tem interesse, não há o que breque uma licença ambiental. Só por via judicial”, exemplifica o promotor de Justiça Fernando Reverendo Akaouí, coordenador da área de meio ambiente do Ministério Público de São Paulo. “Dilma e Serra vestem a camisa de ambientalistas para ganhar os votos de Marina. Os dois não têm compromisso nenhum”, critica André Amaral, coordenador da área de energia do Greenpeace. Veja abaixo como cada um ignorou os critérios ambientais na execução de políticas de governo.

Energia mais poluída

A ex-ministra de Minas e Energia Dilma Rousseff (PT) nada capitalizou com a expressiva redução do desmatamento da Amazônia. No primeiro ano da gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o principal bioma brasileiro perdeu mais de 29 mil quilômetros quadrados de mata nativa. No ano passado, o desmatamento consumiu 7,4 mil quilômetros quadrados, uma queda de 74%, inédita até então. O Brasil tem todas as chances de cumprir, até 2020, as metas de redução de emissão de CO² a partir da queda do desmatamento da Amazônia. Por outro lado, o país enfrenta dificuldades para reduzir as emissões de gases de efeito estufa pelo setor de energia. Dilma, como ministra e nome forte do governo Lula, na chefia da Casa Civil, estimulou fontes extremamente poluentes na geração de energia elétrica.

Disposta a ampliar as opções de geração, Dilma incrementou a matriz energética, mas não fez opção por fontes limpas exclusivamente. A “mãe do PAC” ampliou a quantidade de projetos de usinas hidrelétricas, consideradas uma fonte renovável de energia, e investiu pesadamente no financiamento para construção de usinas termelétricas, as mais poluentes na geração de energia. Além disso, a ex-ministra apostou no incremento da energia nuclear no país. “Na gestão de Dilma, foi retomado o programa de energia nuclear. Até 2020, as emissões do setor irão quase triplicar”, afirma André Amaral, coordenador da área de energia do Greenpeace.

Ações contraditórias

A presença do Partido Verde (PV) nos governos de José Serra (PSDB) em São Paulo não foi garantia de pleno avanço de programas voltados à sustentabilidade. Especialistas em meio ambiente e o Ministério Público (MP) de São Paulo apontam uma dubiedade: ora o tucano levantou a bandeira do desenvolvimento sustentável, ora abandonou as propostas pela metade. “Dentro de um mesmo governo, as ações se contradizem. Defender ou ignorar uma causa atende a interesses do momento”, afirma o promotor de Justiça Fernando Reverendo Akaouí, coordenador da área de meio ambiente do MP de São Paulo. Serra começou o segundo turno da disputa presidencial dizendo ser um legítimo ambientalista, por ter, principalmente, sancionado a Lei do Clima antes de deixar o governo estadual para se candidatar à Presidência. Mas falhas são apontadas nas metas estabelecidas para redução das emissões de CO² em São Paulo.

A principal falha, segundo especialistas, é a exclusão do setor de transportes do compromisso de reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Há apenas citações genéricas na lei, o que não garante uma fiscalização rígida e medidas decisivas para combater a poluição veicular. Além disso, segundo o Greenpeace, Serra ignorou projetos de lei que permaneceram parados no Legislativo, como a Política de Transporte Sustentável e a Lei de Inspeção Veicular, ambos relacionados ao controle de emissões de CO² pela maior frota de veículos do país.

Fonte: Correio Braziliense

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...