25 de dezembro de 2008

Plano florestal brasileiro carrega traços da visão de ativista

Plano florestal brasileiro carrega traços da visão de ativista




Vinte anos atrás, um seringueiro e ativista ambiental brasileiro foi morto a tiros no estado do Acre, por fazendeiros contrários a seus esforços para salvar a floresta amazônica. Após sua morte aos 44 anos, Francisco Alves Mendes, mais conhecido como Chico Mendes, tornou-se mártir de um conceito que somente hoje vem ganhando maior apoio: o de que o valor de uma floresta viva pode ser maior que o valor de uma floresta queimada e cortada em nome do desenvolvimento. Neste mês, o Brasil iniciou o que ambientalistas esperam ser um grande passo para a concretização da visão de Mendes. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva introduziu ambiciosas metas de redução para o desmatamento e emissões de dióxido de carbono, em um país que é um dos maiores emissores mundiais desse gás do efeito estufa. O plano promete tornar o Brasil um participante mais influente nas discussões globais sobre mudanças no clima, ajudando a levar os Estados Unidos e a União Européia a um acordo sobre a redução das emissões e a impedir os efeitos adversos da mudança climática. Isso também pode encorajar mais promessas de países ricos de essencialmente pagar o Brasil para preservar a floresta, pelo bem de toda a humanidade. Porém, alguns ambientalistas questionam se as novas metas, que poderiam reduzir o desmatamento brasileiro em 72% até 2017, são atingíveis em um país que mostrou poucos sinais de ajustar seu modelo de desenvolvimento como um grande provedor de alimentos para o mundo, especialmente em meio a uma crise econômica global.
Para alcançar a primeira fase das reduções planejadas, o Brasil teria de reduzir o desmatamento em 20% no próximo ano, para menos de 10.300 quilômetros quadrados. Essa seria a menor quantidade anual já registrada no Brasil, diz Paulo Adario, diretor da campanha amazônica do Greenpeace no Brasil. A economia do Brasil é centralizada na exportação de produtos agrícolas, como soja e carne bovina, e commodities, como minério de ferro. “O modelo brasileiro é de fornecer alimentos para o mundo e de ser um grande fornecedor de etanol,” disse Adario. “A economia continuará se movendo na mesma direção. Não existe mágica no Brasil.” Até agora, as escolhas econômicas do Brasil causaram grande parte do desmatamento na Amazônia, disse ele.
No final dos anos 60 e início da década de 70, o governo militar estimulou famílias sem-terra a se estabelecerem na região. A construção de estradas, especuladores de terras e fazendeiros vieram em seguida, e as florestas foram derrubadas a um ritmo assustador. As queimadas e a decomposição de árvores produzem dióxido de carbono, um gás do efeito estufa. Mendes organizou seringueiros em grupos e enfrentou credores que pagavam para construir estradas. Seus esforços para acabar com desmatamento em uma área planejada para ser uma reserva florestal levaram à sua morte. Desde o assassinato, em 22 de dezembro de 1988, mais de 20 reservas foram criadas, protegendo mais de 3,2 milhões de hectares. Mendes era um defensor precoce da idéia de que as pessoas que vivem na floresta poderiam criar subsistências a partir de recursos sustentáveis na floresta, em vez do benefício pontual de cortar árvores. O financiamento de carbono, a compensação de habitantes da floresta por buscar indústrias sustentáveis, ofereceria um incentivo agregado, que é vital, dada a incerteza dos mercados da borracha natural e outros produtos não derivados da madeira. “A noção de que nós do norte ajudaremos a pagar pelo serviço do clima é um importante avanço e representa a popularização do conceito que Chico Mendes e aqueles como ele foram pioneiros em criar”, disse Richard H. Moss, diretor dos programas de mudança climática do Fundo Mundial para a Vida Selvagem em Washington. Os assassinatos de Mendes e da irmã Dorothy Stang, uma freira católica de 73 anos que foi baleada em 2005 por se pronunciar abertamente contra o desmatamento na Amazônia, aumentaram a pressão internacional para que o Brasil encontre maneiras de limitar a derrubada de florestas sem sacrificar o desenvolvimento. “O Brasil sempre esteve na defensiva quando o assunto era a mudança climática,” afirmou Carlos Minc, ministro do meio-ambiente brasileiro. “E agora está completamente mudado, aprovando um plano mais ousado que o da Índia ou da China.” Minc conta que o plano ajudaria a satisfazer uma exigência de alguns dos países mais desenvolvidos, incluindo os Estados Unidos, que disseram não concordar em firmar limites de emissões até que países menos desenvolvidos, que produzem quantidades significativas dos gases do efeito estufa, fizessem o mesmo. O desmatamento produz mais que um quinto do dióxido de carbono de origem humana, segundo algumas estimativas. Cerca de 75% das emissões brasileiras vêm do desmatamento, citou Minc. O plano do Brasil diminuiria significativamente essas emissões, reduzindo-as em 4,3 bilhões de toneladas métricas até 2018. Alguns ambientalistas sustentam que acordos envolvendo compensação pela proteção da floresta poderiam enfraquecer os acordos climáticos de muitas formas. Eles também argumentam que o plano deixa as metas mais difíceis ao governo sucessor de Lula. Seu mandato termina em 2010. Ainda assim, o plano é visto por alguns cientistas e especialistas em clima como um importante avanço. “Pela primeira vez, nós temos, abertamente, metas bastante claras de redução do desmatamento,” disse Walter Vergara, climatologista do Banco Mundial responsável pela América Latina. A recessão global pode acabar reduzindo a demanda por bens agrícolas. Porém, ela também pode desacelerar o fluxo de tecnologia necessária para tornar as indústrias mais eficientes e limitar os compromissos de governos estrangeiros como Noruega, Suécia e Alemanha, cujos pagamentos ajudariam a preservar a floresta. Por enquanto, esses países não deram a entender que poderiam reduzir suas contribuições, disse Minc. ”A recessão global e a crise climática não precisam necessariamente ser adversárias, com uma competindo pelos recursos da outra", completou Minc.









Ass: Desmatamento Brasil (desmatamentobr.blogspot.com)

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