8 de dezembro de 2010

Brasil e Reino Unido lideram negociações para garantir a sobrevivência do Protocolo de Kioto

CANCÚN - O Brasil ganhou, junto com o Reino Unido, a responsabilidade de destravar o mais complicado nó das negociações climáticas: o imbróglio envolvendo a sobrevivência ou não do Protocolo de Kioto. A pedido da presidente da 16ª Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU (COP-16), Patricia Espinosa, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e o Secretário de Estado para Energia e Mudança Climática inglês, Chris Hubne, que tem status de ministro, têm feito reuniões bilaterais e trilaterais com os países que mais têm dificultado um acordo que garanta a manutenção do protocolo, que é o único mecanismo legal que obriga os países que mais têm responsabilidade pelo aquecimento global a adotarem metas para reduzir suas emissões. Até agora, os dois já estiveram com os negociadores do Japão e da Rússia, que se manifestaram contra um segundo período do protocolo, cujas metas atuais vencem em 2012.
Além deles, o Canadá e a Nova Zelândia também sinalizam que querem abandonar o barco de Kioto porque o acordo não inclui China e Estados Unidos, os dois maiores emissores. Os chineses não são obrigados a cortar emissões por fazerem parte dos países em desenvolvimento, que não têm responsabilidade histórica pela crise climática, causada por emissões lançadas na atmosfera desde a revolução industrial por países ricos. Já os americanos não ratificaram o protocolo justamente por entenderem que grandes países emergentes, como China, Índia e Brasil, deveriam também estar obrigados a cortarem emissões.
O assunto é complexo e os países resistem em ceder a seus interesses em nome de um acordo comum. A missão anglo-brasileira é das mais difíceis. Mas além deles, outros cinco pares foram formados para desenrolar discussões sobre finanças, mitigação, adaptação e visão compartilhada. As parcerias são sempre entre um país emergente e um país industrializado.
- Brasil e Inglaterra estão trabalhando juntos com o mesmo olhar de buscar um segundo período de compromisso de Kioto. O protocolo é muito importante para nós, temos todo o interesse em que ele seja mantido. Fico muito feliz por essa escolha da presidente da COP porque tivemos uma parceria muito exitosa com os ingleses em Nagoya, onde conseguimos um acordo pela biodiversidade - disse Izabella.
Os dois países foram os que melhores notícias trouxeram a esta desacreditada edição da conferência climática. Na semana passada o Brasil anunciou sua menor taxa de desmatamento da Amazônia, e ontem o Comitê de Mudanças Climáticas da Inglaterra sugeriu que o governo daquele país adote a meta de cortar suas emissões em 60% até 2030, com relação ao emitido em 1990. O Comitê foi criado pelo governo para aconselhá-lo sobre metas, e acompanhar seu cumprimento.
Acordo mundialOntem, quando teve início a sessão de alto nível da COP, o secretário-executivo da ONU, Ban Ki Moon, disse que está na hora de os países ligarem os pontos entre as mudanças climáticas, a pobreza e os problemas com a água do planeta. Ele reconheceu as dificuldades que os negociadores enfrentam com seus respectivos governos na área política e econômica para que um acordo seja fechado, mas apelou para a liderança de cada um presente.
- O tempo de esperar se esgotou. O mundo - especialmente os mais pobres - não pode esperar pelo acordo perfeito. Nós não podemos deixar que o perfeito seja inimigo do bom. Cabe a esta geração encontrar o caminho para um futuro de baixo carbono. Juntos podemos criar um futuro de energias limpas. Eu conto com a liderança de vocês para fazer deste um mundo melhor para todos - disse.
- As fronteiras do mundo são indiferentes aos interesses pessoais. Os recursos naturais são finitos e um dia se acabarão - completou o anfitrião do evento, presidente mexicano Felipe Calderón.
Um ano depois da Conferência Climática de Copenhague, que resultou em um documento não-oficial assinado por 140 países, Cancún tenta salvar as negociações, já que o Acordo de Copenhague não passa de uma carta de intenções ao qual seis países (Venezuela, Bolívia, Cuba, Nicarágua, Sudão e Tuvalu) se opuseram. Com isso, todo o processo de busca de um acordo se fragilizou. Em Cancún já não há expectativas de que novas metas de reduções de CO2 sejam firmadas. Diante do recuo de alguns países com relação a Kioto, o simples fato de que todos os países assinem um acordo mantendo o protocolo no centro das negociações já é considerado um grande avanço.
- Estamos num esforço de evitar o naufrágio. Isso seria mais do que conseguimos em Copenhague. A gente quer recolocar as negociações no trilho. Elas descarrilaram no ano passado porque se colocou um documento que não é aceito por todos, gerando um sentimento de frustração. Se conseguirmos fechar o compromisso de manter o Protocolo de Kioto será um pequeno passo adiante. Infelizmente apenas um pequeno passo - avaliou o Embaixador Extraordinário para Mudanças Climáticas, Sérgio Serra.
Além deste tema, a conferência busca também consenso para tirar do papel um fundo de rápida implementação para ajudar países pobres a se adaptarem aos efeitos do aumento da temperatura da Terra, a criação da arquitetura de um Fundo Verde de longo prazo, com recursos de US$ 100 bilhões anuais para a implementação de iniciativas de baixo carbono em países pobres e emergentes, e a criação do mecanismo REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal).

Fonte: O Globo

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