8 de agosto de 2010

O futuro do transporte depende da sustentabilidade

Os trabalhadores do transporte temem que medidas para mitigar a mudança climática, como a redução das emissões de gases-estufa, coloquem em risco seus empregos, enquanto especialistas pedem urgência para transformar o modelo predominante nesse setor em todo o mundo. “O futuro do transporte depende da sustentabilidade. Mas tem que haver uma transição, porque a mudança não pode ocorrer da noite para o dia”, disse à IPS Sandra Burleson, representante da União de Trabalhadores do Transporte, dos Estados Unidos, que reúne 135 mil membros de setores como aéreo, serviço público de passageiros e ferroviário.

A relação entre esta atividade global e a mudança climática é um dos temas centrais do 42º Congresso Internacional da Federação Internacional de Trabalhadores do Transporte (ITF), que começou ontem na capital mexicana e vai até o dia 12. No primeiro dia do encontro, os participantes, procedentes de 368 sindicatos de 112 países, debateram o assunto em uma jornada especial sobre o fenômeno na qual deixaram claras as divergências em torno da atual crise ecológica mundial, especialmente sobre o uso de combustíveis de origem fóssil com carvão e petróleo, vitais para o transporte.

“Afirmo ser possível, inclusive necessário, que os sindicatos se oponham às iniciativas destruidoras de empregos que estão relacionadas com a mudança climática. E, ao mesmo tempo, podemos nos unir aos ambientalistas em uma série de questões políticas”, disse o presidente norte-americano do Sindicato Internacional do Transporte das Comunicações, Robert Scardeletti. Esta é uma das associações mais antigas dos Estados Unidos, que reúne aproximadamente 46 mil membros, especialmente do setor ferroviário.

O transporte responde por 13% das emissões globais de gases-estufa, acusados de causar o aumento da temperatura global. O rodoviário equivale a 10% do total, segundo o documento “Trabalhadores do transporte e a mudança climática: para uma mobilidade sustentável e baixa em carbono”, discutido durante a conferência especial. Das emissões de dióxido de carbono (CO²), um dos gases mais contaminantes, 23% provêm do transporte. Novamente, o rodoviário se impõe, com 23%, segundo o documento.

“As emissões do transporte estão aumentando mais rapidamente do que as de outros setores, por isso é importante tomar medidas de mitigação e adaptação”, disseram à IPS Lara Skinner e Sean Sweeney, pesquisadores do Instituto Global do Trabalho (GLI) da norte-americana Universidade de Cornell, presentes à conferência. O Grupo de Trabalho sobre Mudança Climática do ITF e o GLI elaboraram o informe preparado especialmente para a conferência internacional, que aborda temas como a qualidade dos serviços públicos, pirataria, segurança e prevenção do vírus HIV, causador da aids.

Os especialistas propuseram o esquema “reduzir-mudar-melhorar”, em alusão às ações de redução de emissões, mudança para modelos de transporte mais sustentáveis e aumento da eficiência energética. “O transporte é um dos problemas mais sérios, mas não é a raiz do problema e sim um efeito dos padrões de produção e demanda de bens e serviços”, explicou à IPS o norueguês Asbjörn Wahl, responsável pelo Grupo de Trabalho sobre Mudança Climática do ITF. O transporte barato, a alta mobilidade de mercadorias e pessoas, o crescente uso do automóvel e uma ênfase no transporte terrestre estão por trás do aumento das emissões de gases-estufa, segundo o documento.

O Comitê Executivo do ITF optou por não apresentar o documento sobre mudança climática como uma declaração de política da organização, apesar de inicialmente estar programado assim. O congresso, que acontece a cada quatro anos, votará sobre três propostas, que serão vinculantes para a organização e suas políticas durante os próximos quatro anos. Delas, a chamada Moção I é a mais ambiciosa e a que já tem apoio de 51 sindicatos em todo o mundo. Essa proposta adota o esquema reduzir-mudar-melhorar.

Porém, alerta que o ITF “jamais aceitará que a transição para uma sociedade com baixas emissões de carbono seja feita a partir de maior desemprego ou prejudicando os salários e as condições trabalhistas dos profissionais do transporte”. “Existem condições para os transportes alternativos, mas é preciso considerar que somos países em desenvolvimento”, disseram à IPS os etíopes Zeleke Mena e Zerihon Alemu, da Federação de Trabalhadores do Transporte e das Comunicações dessa nação africana. Em Addis Abeba, capital etíope de cinco milhões de habitantes, circulam mais de 1.100 ônibus do serviço público e privado e 12 mil táxis. Em 2008, a administração local colocou em operação duas unidades elétricas. “As pessoas precisam de transporte e o que existe é deficiente”, asseguraram.

O documento do ITF, que representa 4,6 milhões de trabalhadores no mundo, sugere uma moratória na liberalização mundial do transporte, maior uso de trens de alta velocidade em lugar de aviões e aumento da eficiência energética dos modos de transporte e da tecnologia veicular. Estudos sobre políticas do esquema reduzir-mudar-melhorar sugerem que mais empregos serão criados do que perdidos no transporte com essas políticas, diz o estudo, mas prevê que estas poderiam causar mudanças nos postos de trabalho existentes e potenciais perdas.

“Devemos ser líderes na proteção dos empregos atuais no transporte e na criação de novos postos de trabalho no transporte coletivo de passageiros e outras modalidades limpas. Nossa absoluta prioridade deve ser proteger os trabalhadores que já representamos”, disse Robert. O México emite anualmente 715,3 milhões de toneladas de CO², das quais o transporte representa cerca de 134 milhões, segundo dados governamentais. Das emissões totais, 60% provêm da produção e do consumo de energia, incluindo o transporte, 14,4% do manejo de dejetos, 9,9% do desmatamento, 8,9% dos processos industriais e 6,4% da atividade agrícola.

Fonte: http://ambienteja.info/

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