30 de novembro de 2009

COP-15: desmatamento dificilmente será reduzido na floresta amazônica

O Brasil deverá assumir na 15ª Conferência das Partes (COP-15), que começa em uma semana, em Copenhague, na Dinamarca, um compromisso ousado para a redução da emissão de gases de efeito estufa. Mas a tarefa não será nada fácil. Projeção feita pelo ministro de Ciência e Tecnologia dos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, José Israel Vargas, indica que, se a derrubada de árvores na Amazônia continuar seguindo a média atual, em 2020 terão sido desmatados 980 mil quilômetros quadrados, área duas vezes maior que o território de Minas Gerais. "Se o ritmo for mantido, até 2040 toda a floresta de mata úmida será devastada", afirma Vargas. Esse bioma representa um terço da Amazônia Legal.

Um dos cinco países que mais contribuem para o aquecimento global, o Brasil terá de frear o desmatamento da floresta amazônica e do cerrado para atingir a meta voluntária de redução de carbono anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva há 10 dias - de 36,1% a 38,9% até 2020. Voluntária porque o país não integra o Anexo 1 do Protocolo de Kyoto, composto por 37 nações industrializadas que, pelo documento assinado no Japão em 1997, deveriam cortar suas emissões em 5,2%. Ou seja, o Brasil não tem a obrigação legal de estabelecer uma meta numérica de redução.

A partir de um estudo matemático, José Israel demonstra que o desmatamento da floresta tem correlação direta com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Portanto, para que cesse a derrubada indiscriminada de árvores, deve existir um esforço para mudar as bases do crescimento econômico puxado pelas indústrias, principalmente do Sudeste. Os dados, que foram apresentados no Senado Federal pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, são preocupantes. No Inventário Brasileiro das Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa, com os dados que serão apresentados pelo governo brasileiro na COP-15, o desmatamento corresponde a 58% da emissão dos gases poluentes.

Em 2005, a destruição da floresta jogou na atmosfera 1,27 bilhão de toneladas de gases que contribuem para o aumento do efeito estufa, 70% a mais das emissões de 1990, com 746,4 milhões de toneladas. Somando todos os setores, o país emitiu 2,2 bilhões de toneladas de gases que aceleram o aquecimento global este ano. O inventário é parte da Comunicação Nacional à Convenção Quadro da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças do Clima. O prazo legal de apresentação se encerra em 31 de março de 2011, mas a divulgação das informações mais importantes foi adiantada devido à realização da COP-15, de 7 a 18 de dezembro, em Copenhague.

Durante a apresentação do inventário no Senado, o ministro Sérgio Rezende informou que, durante o primeiro semestre de 2010, todos os dados serão submetidos a uma consulta ampla de especialistas que não participaram diretamente da elaboração do documento. "A recepção das informações foi concluída este mês para a apresentação, em janeiro de 2010, do relatório de referência, para ser discutida em consulta pública e seminários´´, disse Sérgio Rezende.

De 1990 a 2005, o Brasil aumentou em 62% a emissão de poluentes. Os fatores que mais contribuíram para o índice foram o setor de tratamento de resíduos, que inclui o esgoto, (aumento de 77%), o desmatamento (70%) e o setor energético (68%) - com dados relativos a emissões relacionadas à produção, à transformação e ao consumo de energia.

O último inventário feito no país era referente aos dados do período de 1990 a 1994. O anúncio das informações foi precedido de uma tensão no governo entre os ministérios do Meio Ambiente e de Ciência e Tecnologia. Durante a posse dos titulares do painel, no Rio de Janeiro, o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) tentou desfazer o clima de rivalidade com o MCT, afirmando que não há divergência dos dados divulgados pelas duas pastas.

Fenômeno natural

O gás carbônico ou dióxido de carbono (CO2) costuma ser visto como o principal vilão do aquecimento global. No entanto, com ele, o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), os hidrofluorcarbonos (HFC), os perfluorcarbonos (PFC) e o hexafluoreto de enxofre (SF6) compõem o conjunto de substâncias que causam o aquecimento do planeta. Fenômeno natural responsável pelo aquecimento da Terra (sem ele não haveria temperatura razoável para a vida no planeta), o efeito estufa se torna maléfico quando esses gases se acumulam em excesso na atmosfera, aumentando de forma exagerada a temperatura do globo.

Se a Terra não fosse coberta por essa espécie de manto, o clima seria demasiadamente frio. Os gases de efeito estufa são essenciais para tal cobertura, mas quando ultrapassam determinada quantidade - 390ppm (partes por milhão) - começam os problemas. Os cientistas alertam que o derretimento das geleiras em diferentes partes do planeta, como no Monte Kilimanjaro, na África, e no Himalaia, na Ásia; o degelo nos pólos Norte e Sul; ou as catástrofes naturais que assolam os continentes, como as tsunamis na Ásia, estão relacionados ao aumento da temperatura no planeta.

O alerta em relação à mudança do clima é a bandeira apresentada pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU, formado em 1998. Os cientistas do IPCC defendem que o aquecimento global é resultado das atividades humanas (antrópicas) e não de ciclos naturais.

O cálculo da meta

O Brasil apresentará, durante a COP-15, proposta voluntária de reduzir, até 2020, entre 36,1% e 38,9% a emissão de gases do efeito estufa. A proposta brasileira prevê a redução na seguinte proporção:

20,9% - redução de 80% no desmatamento da Amazônia

3,9% - redução de 40% no desmatamento do cerrado

De 4,9% a 6,1% - ações para a agropecuária: recuperação de pastos, integração lavoura-pecuária, plantio direto e fixação biológica de nitrogênio

De 6,1% a 7,7% - referentes ao setor de energia: eficiência energética, uso de biocombustíveis, expansão da oferta de energia por hidrelétricas e fontes alternativas (bioeletricidade e energia eólica)

De 0,3% a 0,4% - ações na área de siderurgia, com a substituição do carvão proveniente do desmatamento por carvão oriundo de florestas plantadas.


Fonte: Kaxiana


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