Estudo ainda inédito de pesquisadores da Escola  Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) confirma que  existem terras suficientes no Brasil para multiplicar a produção  agropecuária sem que seja necessário expandir o desmatamento. De acordo  com o trabalho, o aumento da produtividade da pecuária permitiria  diminuir a área de pastagens e liberaria até 69 milhões de hectares para  a agricultura, diminuindo a demanda pela abertura de novas áreas.
Os 69 milhões de hectares equivalem aos territórios somados do Rio  Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Usar todas essas terras  significaria dobrar a área agrícola brasileira. 
Coordenado pelo pesquisador Gerd Sparovek, o trabalho defende que a  adoção de tecnologias simples já difundidas no País, como a divisão e  rotação de pastos, possibilitaria ampliar a lotação média das fazendas  de gado, considerada muito baixa no Brasil, de pouco mais de uma cabeça  por hectare para quase duas. Assim, seriam liberadas áreas para a  agricultura. 
"Toda a discussão sobre as mudanças do Código Florestal deveria  passar pela rediscussão da pecuária extensiva no Brasil", afirmou  Sparovek durante seminário, na terça-feira passada (22/2), onde foi  apresentado o levantamento, que deve ser publicado neste mês. No evento,  realizado na Câmara dos Deputados para discutir as mudanças no código,  Sparoveck revelou que existiriam 103 milhões de hectares com vegetação  nativa disponíveis para desmatamento regular de acordo com a lei atual -  território maior que o Mato Grosso. O pesquisador disse que a mudança  proposta para a legislação precisa incluir, além da sua aplicabilidade, o  debate sobre como proteger as terras ainda disponíveis para desmate  legal.
A pesquisa não trata de situações regionais e  casos específicos, mas reforça a tese de que programas de grande escala  de planejamento territorial, assistência técnica e incentivo à  regularização ambiental podem manter o ritmo de crescimento da  agropecuária sem a necessidade de ampliar a fronteira agrícola. O  desafio seria conciliar a alocação de terras para a produção  agropecuária, exploração florestal e conservação.
Informações do Censo Agropecuário 2006 do Instituto Brasileiro de  Geografia e Estatística (IBGE), o último realizado no País, apontam que  um quinto do território nacional (ou 158 milhões de hectares) é ocupado  por pastagens. Deste total, quase 20% estão em terras de alta ou média  aptidão para lavouras, segundo Sparovek. 
Para os pesquisadores da Esalq, a intensificação da pecuária seria  suficiente para manter o rebanho nacional em patamares adequados à  demanda dos mercados nacional e internacional. Traria também como  consequências a produção de carne de melhor qualidade, estabilidade de  preços, redução nas emissões de gases de efeito estufa e menor  degradação do solo.  
O estudo mostra que o polêmico relatório do deputado Aldo Rebelo  (PCdoB-SP) sobre as mudanças do Código Florestal pode desproteger  definitivamente 43 milhões de hectares de Áreas de Preservação  Permanente (APP) e 42 milhões de hectares em Reservas Legais (RL) que  foram desmatados ilegalmente. Assim, regularizaria a situação dos  proprietários dessas áreas. 
RL é a fração de toda propriedade rural que não pode ser desmatada e  varia de 20% a 80%, dependendo do bioma. No bioma amazônico, esse  percentual é hoje de 80%. A APP é a faixa de vegetação situada ao longo  de corpos de água, no topo de morros e em encostas, que também não pode  ser eliminada segundo a lei.
Estudo da SBPC e ABC
No mesmo seminário, também foram apresentados alguns dos resultados  de outro estudo sobre as alterações propostas para o Código elaborado  por um grupo de especialistas reunido pela Sociedade Brasileira para o  Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC).  Os pesquisadores que participaram do evento rechaçaram as principais  propostas contidas no relatório de Rebelo, como reduzir as APPs e  anistiar quem desmatou ilegalmente (Saiba mais).  
A pesquisa do grupo da SBPC e da ABC está sendo finalizada e deve ser  divulgada em 15 dias. O sumário executivo já está disponível (acesse aqui).  Nele, os cientistas defendem um “planejamento criterioso na ocupação  agrícola, com adoção de práticas de manejo conservacionista” de forma  que o “potencial de uso dos recursos naturais seja otimizado, ao mesmo  tempo que sua disponibilidade seja garantida para as gerações futuras”. 
Ambos os estudos põem por terra algumas das principais premissas do  relatório de Rebelo, como a ideia de que a aplicação do Código Florestal  atravanca o desenvolvimento agropecuário. O trabalho da SBPC e da ABC,  por exemplo, lembra que o Brasil tornou-se um dos maiores exportadores  agrícolas do mundo com base em grandes saltos de produtividade e na  conversão de pastagens em cultivos – e não na ampliação da fronteira  agrícola. Entre 1975 e 2010, enquanto a área plantada aumentou mais de  45%, a produção cresceu 268% no Brasil. A produtividade média mais que  dobrou, passando de 1.258 kg/ha, em 1977, para 3.000 kg/ha, em 2010. 
A pesquisa aponta que ainda existe bom potencial para intensificação  do uso do solo, mesmo em regiões onde o seu grau é considerado acima da  média nacional, como no Centro-oeste, Sudeste e no Sul. Projeções do  Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) indicam que,  entre 2010 e 2020, a taxa anual média de crescimento da produção das  lavouras será de 2,67%, enquanto a área plantada subirá apenas 0,45% ao  ano, passando de 60 milhões de hectares para 69,7 milhões de hectares. 
Para saber mais, acesse o site da Campanha SOS Florestas.
Fonte: http://www.socioambiental.org  

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