Desmatamento eleva sensação de calor

A mudança foi percebida rapidamente. No dia seguinte à derrubada das árvores do terreno que fica na esquina entre as avenidas Santos Dumont e Senador Virgílio Távora, ocorrida no domingo de Carnaval, o porteiro Joaquim Nogueira Neto, 39, já sentiu o clima esquentar. “Ficou muito mais quente. Ventilava mais e o vento era mais fresco. Agora o vento vem mais quente”, lamenta.

A sensação de Neto é sentida por vários moradores do entorno. Eles acreditam que o espaço aberto que ficou no meio do quarteirão tende a ficar ainda mais quente, quando for cimentado e receber prédio. Para eles, um dano irreversível.

Mesmo morando no nono andar, o médico Francisco de Assis Barroso, 80, também acredita que a região esquentou. Além disso, ele observa que a luminosidade aumentou. “Está muito mais claro. O verde absorvia a luz. Além disso, está fazendo muito calor. O vento vem quente”, lamenta.

Um dos moradores mais antigos do condomínio, ele acredita que a Prefeitura poderia ter transformado o local numa praça. “Era a oportunidade de Fortaleza ter uma praça que já estava praticamente feita, considerando todas as árvores que tinha aqui. Seria pelo bem não só nosso, dos moradores, mas para o bem da cidade toda”, acredita.

A administradora, que não quis se identificar, ainda tem dúvidas se os dias estão mais quentes mesmo ou se o clima esquentou por causa da derrubada das árvores. Mas ela tem certeza de que vai piorar quando o novo empreendimento chegar. “Hoje a gente quer mobilizar os moradores para que não derrubem o verde que existe do outro lado da rua (atravessando a Senador Virgílio Távora)”.

Desequilíbrio

Morador da Aldeota, o aposentado Albecy Viana de Oliveira, 65, se preocupa com a biodiversidade que existia no terreno e foi prejudicada. Ele sabe que, com a derrubada das árvores, os animais que viviam ali também são prejudicados. “Toda vida que desmatam uma área ocorre o desequilíbrio. Ali é uma área muito grande”, disse.

Para ele, os empreendimentos podem ter projetos que contemplem a preservação das árvores. “A natureza deve estar em primeiro lugar. Se você substitui o verde por pedra, o clima esquenta mais ainda, fica intolerável”.

Fonte: http://www.opovo.com.br