17 de dezembro de 2010

Pecuária e manejo da floresta em pé são desafios para não retroceder no desmatamento, segundo ambientalistas

São Paulo – O novo patamar atingido pelo Brasil no combate ao desmatamento da Amazônia coloca pela frente novos desafios, dizem ambientalistas. O índice atual é o mais baixo da história, com perda de 6,4 mil quilômetros quadrados em um espaço de doze meses. Será preciso, durante o governo da presidente eleita Dilma Rousseff, assegurar que não haja retrocessos, bem como reforçar instrumentos para avançar mais na preservação do bioma.
Se a fiscalização é um dos vetores para explicar a redução contínua desde 2004, chegando a níveis bem mais otimistas que o esperado inicialmente pelo Ministério do Meio Ambiente, agora o controle já não basta. Especialistas avaliam que será preciso reforçar o veio econômico de combate à derrubada da floresta, assegurando a exploração sustentável da mata em pé.
Os números Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) sobre outubro, embora confirmem a tendência de queda do desmatamento, mostram uma preocupante aceleração da degradação florestal, com elevação de 446% frente ao mesmo mês de 2009, resultando em 562 quilômetros quadrados. “O desmatamento não é um processo que acontece num estalar de dedos. Ele começa com retirada da madeira, o que vai deixando a floresta doente”, pondera Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior do Imazon. Ele acrescenta que este é o momento de o governo agir nas áreas degradadas e reverter o processo, evitando a derrubada.
Frear a degradação é apenas um dos desafios que o Ministério do Meio Ambiente terá pela frente. “O desmatamento não é nada mais que um sintoma de uma doença. A doença é o sistema de desenvolvimento, que precisa ser brecado”, indica Rafael Cruz, integrante da campanha de Amazônia do Greenpeace. Ele avalia que é preciso somar à exigência de cadastramento uma série de iniciativas, como a restrição rígida de crédito aos desmatadores e a premiação de quem conserva a mata em sua propriedade, vistos como os passos seguintes às operações de controle e fiscalização.
Paulo Maurício Lima de Alencastro, pesquisador do Departamento de Ecologia do Instituto Nacional de Pesquisas de Amazônia (Inpa), considera que é preciso garantir a recuperação das áreas desmatadas para que voltem a ser produtivas, diminuindo a pressão sobre a floresta. “O grande desafio que Dilma tem pela frente é tentar conciliar o lado econômico com a conservação do meio ambiente. Estamos longe de ter alternativas robustas economicamente de manejo da floresta em pé”, alerta.

Infraestrutura

Uma das preocupações para que não se reverta a trajetória de queda está nas obras de infraestrutura na região. Os dados do Imazon mostram que, há um ano, Rondônia vem sofrendo um processo de desmate na capital Porto Velho e arredores, áreas afetadas pelas usinas que são construídas no Rio Madeira. “O governo diz que as novas obras não vão ser como no passado, que eram um convite ao desmatamento. De fato, não está sendo, mas também não vem sendo como o governo prometia, que estaria tudo sob controle”, adverte Veríssimo.
Outro foco de tensão é a hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, que deve ser a terceira maior do mundo, demandando uma infraestrutura bastante grande, ainda mais considerando a fragilidade do ecossistema amazônico. A BR-319, rodovia prevista no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), será uma ligação de 870 quilômetros entre Manaus (AM) e Porto Velho (RO).
“(A rodovia) vai ligar o arco do desmatamento ao centro da área intocada da Amazônia, de uma área atualmente preservada”, lamenta Paulo Maurício. Estradas em florestas, no geral, criam uma estrutura conhecida como "espinha de peixe", ou seja, além do trajeto em si, é preciso considerar os caminhos que se formam a partir da via principal.

Pequenas áreas

Para o Ministério do Meio Ambiente, a preocupação está, também, nas pequenas áreas de desmate. A análise dos dados de satélite mostrou que está aumentando a ocorrência de "puxadinhos", que são uma estratégia adotada por produtores para tentar fugir às imagens coletadas eletronicamente: muitos acreditam que, fazendo cortes em espaços reduzidos, não serão flagrados. O ministério espera também ampliar as unidades de conservação e incentivar atividades de ecoturismo, uma maneira de viabilizar a exploração da floresta em pé.
Mauro Pires, diretor do Departamento de Combate e Controle do Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, avalia ainda que é preciso melhorar a produtividade da pecuária, tida como uma das cadeias produtivas menos desenvolvidas do país. O boi brasileiro conta com uma área média de um hectare por cabeça, proporção longe do considerado aceitável pelo especialista. “É investir numa agropecuária que, em vez de incorporar área, passe a incorporar produtividade. Tem chance de aumentar a economia do setor primário sem investir em expansão da área”, pondera.
Há ainda um outro entrave, que não está nas mãos do Ministério. O Congresso Nacional discute alterações do Código Florestal. Caso aprovadas, podem resultar em uma reversão da trajetória de queda do desmatamento da Amazônia, segundo os ambientalistas. A leitura é de que os compromissos assumidos internacionalmente pelo Brasil na redução de emissões de gases-estufa seriam inviabilizados se deputados e senadores aprovarem as mudanças defendidas pelos representantes do agronegócio.

Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br

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