29 de dezembro de 2010

Tudo bem no ano que vem?

 O Brasil acaba de fechar ciclo auspicioso da sua história. A democracia é definitiva e conseguimos imprimir oito anos sem crise econômica, ainda que em 2009 tenha havido recessão por conta das turbulências do sistema financeiro global. Daí a entender que o legado da Era Lula seja o País perfeito há uma enorme distância ou clamorosa ilusão.
2011 vai começar com os problemas de sempre: o caos nos aeroportos, a debilidade da moral pública, os péssimos indicadores educacionais e a falta de política de segurança pública. Também é ocasião para renovar os anseios de um Brasil responsável que realize, por exemplo, as reformas tributária e política.
Caberá ao novo governo dar o impulso necessário para que o processo legislativo seja encaminhado ainda que permaneçam incógnitas as reais pretensões da nova presidente sobre esses e tantos outros temas relevantes. Não é sabido, quais serão os rumos da política externa daqui para frente. Vai ser reeditado o queridismo diplomático em relação ao terceiro mundo ou o Brasil passará a agir no cenário internacional com protagonismo?
Foi aparentemente sinal de afirmação política afrontar os Estados Unidos quando o Itamaraty bajulou ditadores e conferiu apoio a regimes autocráticos, como ocorreu com a Venezuela e o Irã, quando na verdade as iniciativas revelaram completa falta de pragmatismo. A boa diplomacia é aquela que se converte em negócios vantajosos e projeta os interesses do País de acordo com a dimensão do poder nacional.
Vai ser fundamental ao crescimento brasileiro ampliar a participação no comércio mundial e principalmente diversificar a pauta de exportação com produtos de maior valor agregado. Vender commodities é importante, mas se trata de um modelo inaugurado no pacto colonial e que gera mais dependência aos humores do mercado. Hoje o País corre sério risco de desindustrialização, sintoma reconhecido pelo próprio governo, e precisa urgente remover os obstáculos institucionais que impedem a competitividade do produto brasileiro a exemplo da extorsiva carga tributária, da baixa taxa de investimento, da excessiva burocracia e dos gargalos da infraestrutura.
O Brasil atuou em alguns foros internacionais inúteis, como a Unasul, em vez de afirmar a sua real liderança no subcontinente da América do Sul em relação a questões políticas importantes, como a quebra dos estatutos democráticos em vários países fronteiriços. Por outro lado assentiu que vizinhos problemáticos violassem regras contratuais em prejuízo dos nossos interesses econômicos como se a tolerância com as indisposições da Argentina no Mercosul e da Bolívia quanto à Petrobrás fizessem parte do pacto de integração dos povos sofridos da América Latina. Certamente, grande balela histórica.
No ponto de vista ambiental, o País tem muito o que fazer além de conter o desmatamento da Amazônia. Se quiser assumir posição decisória no tratamento das mudanças climáticas, o Brasil precisa resolver os problemas comezinhos como a baixíssima cobertura de saneamento e desenvolver tecnologia para estar à frente das demandas por energia renovável. Em 2012 vai se realizar a Conferência Rio+20, ocasião em que poderemos realmente liderar o grande acordo global que não se realizou com o Protocolo de Kyoto.
Temos também na agenda do próximo quadriênio a Copa do Mundo, assunto que até o momento foi tratado com grande regozijo e escassa providência, tanto é verdade que virou recorrente a manifestação da FIFA sobre o atraso nas obras de infraestrutura, da reforma dos estádios e dos equipamentos turísticos.
O mais prudente é conservar otimismo responsável em relação ao próximo ano, que vai começar com cenário externo temerário e risco de inflação por aqui.
A todos os leitores do Blog do Noblat desejo um 2011 fantástico e que este seja o melhor ano de todos os tempos.

Por Demóstenes Torres

Fonte: O Globo

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...