5 de outubro de 2010

Pesquisadores: Produção de alimentos ainda ameaça florestas

Não, o problema não está resolvido. Ao contrário do que foi publicado em uma reportagem na Revista Nature, é prematuro afirmar que já não existe correlação entre desmatamento e a produção de alimentos no Brasil. O alerta é dos pesquisadores Luiz Antonio Martinelli e Paulo Moutinho, respectivamente presidente e diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental Amazônia (Ipam) - que responderam a reportagem por meio de carta publicada na edição de setembro da revista.
Na reportagem, Mateus Battistela, chefe geral da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) Monitoramento por Satélite, afirmava que, apesar da crescente produção do rebanho bovino, em especial na região Norte, e manutenção de bons preços das commodities agrícolas, as taxas de desmatamento na Amazônia caíram nos últimos anos.
Já para os pesquisadores do Ipam, o aumento da procura por commodities de exportação, como soja e carne, por mercados internacionais, levará a mais desmatamento de florestas tropicais. Lembram que as mudanças propostas para o Código Florestal apresentadas no Congresso Nacional são grandes indutoras do desmatamento e ressaltam que há um longo caminho para o aumento da produtividade.
O Brasil pode aumentar muito a produção sem expandir a fronteira sobre as áreas naturais, mas para isso são necessárias políticas de ordenamento territorial, investimento em recuperação de terras degradadas e melhorias genéticas. A produtividade da pecuária brasileira é - pasme - praticamente a mesma dos últimos 40 anos (leia mais em http://pagina22.com.br/index.php/2010/09/sr-a-presidente). Se essa taxa de produtividade não aumentar, como a produção poderá crescer para atender ao aumento da demanda sem pressionar o avanço da fronteira?
A própria reportagem da Nature informa que, segundo previsões da The United Nations Food and Agriculture Organization (FAO), a produção agrícola brasileira crescerá mais rapidamente que em qualquer outro país do mundo na próxima década, com aumento de 40% até 2019.
Essa perspectiva de crescimento traz mais desafios à tona, como o de reduzir as emissões de gases de efeito estufa sem deixar de atender à demanda crescente. A questão inclusive será tema de discussões no seminário "Rumo às baixas emissões de gases de efeito estufa na agropecuária brasileira". O evento, que reunirá cientistas, representantes da sociedade civil, do setor privado e do governo, será realizado pelo Ipam e pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp (GVces) nesta quinta-feira, 7 de outubro, no auditório da FGV em São Paulo, com inscrições gratuitas.
Segundo Daniel Nepstad, pesquisador do Ipam, as conclusões do seminário serão encaminhadas para o governo para servir de subsídios para a Política Nacional de Mudanças Climáticas. Ele defende que haja uma aproximação entre os setores produtivo e ambiental de modo que o Brasil possa ter uma agenda climática que dialogue com a agenda econômica.
"A exploração agrícola global deve ser socialmente justa e ambientalmente amigável. Mesmo que a política agrícola brasileira esteja a caminho de cumprir estas condições, ainda não estamos lá", afirmam Martinelli e Moutinho.
Serviço:
Confira a programação do seminário:
8h00-8h30 - retirada de material / cadastramento
8h30-8h45 - Mesa de abertura: Mario Monzoni (GVces), Paulo Moutinho (Ipam)
8h45-10h00 - O Brasil no contexto internacional (moderador: Andreanne, PRP)
Brasil: abastecendo o mundo e mitigando a mudança climática (Marcos Jank, Presidente da Unica)
Brasil: a nova superpotência agrícola e ambiental? (Paulo Rabello de Castro, RC Consultores)
Baixas emissões na agropecuária: quem vai pagar a conta? (Daniel Nepstad, Ipam)
GHG Protocol para agricultura (Roberto Strumpf, GVces)
10h00-10h20 - Intervalo
10h20-11h00 - Política Nacional de Mudanças Climáticas
Política Nacional de Mudanças Climáticas (André Ferretti, Observatório do Clima - a confirmar)
Plano Setorial de Agricultura (Tereza Campello, Casa Civil da Presidência da Republica)
11h00-11h15 - Intervalo
11h15-12h15 - Painel Temático 1: O mercado rejeita o desmatamento ilegal (Moderador: Osvaldo Stella)
A moratória de soja (Carlo Lovatelli, Abiove)
A moratória de soja e pecuária (Paulo Adário, Greenpeace - a confirmar)
Implantando critérios socioambientais na cadeia de fornecimento (João Shimada, Grupo André Maggi)
Os produtores se preparam para os novos mercados (John Carter, Aliança da Terra)
12h15-14h00 - Almoço
14h00-15h00 - Painel Temático 3: Aumentando a produção agrícola sem desmatamento
O desenvolvimento de baixo carbono brasileiro (Britaldo Soares-Filho, UFMG)
Agricultura de baixo carbono: resultados de um novo estudo (John Landers, Associação Plantio Direto)
A intensificação da pecuária e o mercado de carbono (Bernardo Strassburg, Instituto GAEA)
15h00-16h00 - Painel Temático 2: Ordenamento Territorial & Monitoramento
Aptidão agrícola dos principais cultivos no Brasil (Eduardo Assad, Embrapa)
Zoneamento Ecológico-Econômico (Roberto Vinzentin, MMA)
Regularização Fundiária (Alberto Lourenço, SAE)
16h00-16h15 Intervalo
16h15-18h30 Painel Temático 4: Infraestrutura e finanças
(Moderador: Ocimar Villela)
Financiamento para agropecuária de baixas emissões (Aloísio Melo, Ministério da Fazenda)
Sistemas de transporte e armazenamento para agropecuária de baixas emissões (Fuad Jorge Alves, Logit)
18h30 - Encerramento

Fonte: http://terramagazine.terra.com.br

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